gente rude da cidade

É perverso, um país em que todos os programas de entretenimento têm pelo menos um segmento que judia da ‘gente rude do campo’.
Há mesmo quem se dê ao trabalho de conceber projectos em que é este o único tema, como aquele abominável ‘Telerural’, que retrata os agricultores como cidadãos de segunda classe. Como gentinha ignorante, suja, grosseira e inconveniente, que penteia o cabelo seboso com risca ao meio, e usa roupa velha e fora de moda.

Agora pergunto, que comem vocês, cidadãos?
Comem carne? Uns bifes do lombo, mal-passadinhos na brasa?
Bem, talvez essa carne venha das graciosas vaquinhas recentemente estacionadas na praça de Espanha, no coração da cidade... E até aposto que são tratadas e abatidas pelos MBAs da Nova, em horário pós-laboral, mesmo a seguir às aulas de mercados financeiros, ainda vestidos com fatos demasiado engomados e com as máquinas de calcular a saltar das pastas de cabedal.
Ou será que os cavalheiros preferem vegetais? Pois, realmente é mais saudável. É o que consta, pelo menos...
Se bem que podemos questionar: de onde vêm essas verduras, que se comem nos ‘go natural’, por esta vida fora? Há de ser daquelas hortas, que ficam nas traseiras do super frutas almeida, lá para os lados da av. Roma. E, pelo ar das coisas, o alinhamento da plantação até deve ter sido arquitectado pelos homossexuais com óculos de massa da universidade de Belas Artes de Lisboa. Desses fixes, que são anarquistas e fazem questão de não se divertir nas festas.

Mas, se calhar… se calhar não.
Se calhar foram plantados pela gente que se vê rebaixada todos os dias na televisão nacional, como cidadãos de segunda categoria.
É essa gente que trata das vacas, e usa a bosta delas para dar cor e textura aos legumes do go natural. São eles que acordam cedo a vida inteira, para trabalhar o dia inteiro, para chegar a uma velhice miserável e solitária. Sem tostão, e sem perdão.

É assim nesta terra, em que o camponês que joga à bola é um herói, e o camponês que nos alimenta é menos que nada.
Porque são um embaraço. Porque os francesinhos tratam mal os tugas assim. E para fingir que isso não os embaraça, os burguesinhos tugas também tratam mal os tugas assim. Porque desta maneira se distanciam. Desta maneira são diferentes.

Quanto a mim, estou farta.
Porque não arranjam um trabalho a sério, seus pedaços de asno?
E parem de gozar com quem trabalha para vosso bem.